Como definir a senioridade de um profissional?

Não há nada que atormente mais um Gestor ou desmotive um funcionário quando a atribuição da SENIORIDADE de alguém não está clara ou criteriosamente definida: por que eu ainda sou Junior e até quando? o que devo fazer para tornar-me um profissional Senior ?  E por aí vai….

Por favor, evitemos o eterno refrão: “meu tempo de casa ou experiência é menor que o do meu colega”. Será que experiência é a única competência para definirmos SENIORIDADE? Perdoem-me os defensores dessa idéia, mas acho que não!

Vamos estabelecer desde o princípio duas premissas básicas.

Primeira: a SENIORIDADE é sempre da pessoa e nunca do cargo. Não há o cargo Analista de RH Junior mas, sim, o profissional pouco “competente” (no sentido de possuir poucas competências) que ocupa essa posição. Compete a esse profissional incorporar competências: mais conhecimentos, mais experiência, mais habilidades que o capacitem a ostentar um nível mais elevado de SENIORIDADE. Segunda: temos que ter um parâmetro para podermos comparar O QUE o cargo requer para seu desempenho suficiente e O QUE o ocupante oferece para atender a esse desempenho.

Isso significa dizer que não podemos falar em objetividade na definição de padrões de SENIORIDADE se, antes, o perfil ou especificações do cargo não forem estabelecidas.

Percebe-se que o perfil do cargo bem como sua descrição são uma coisa só, o que muda é o posicionamento do ocupante. O funcionário Senior ou se ocupa e prioriza as atividades mais complexas do cargo (já que sua qualificação é melhor) ou executa indistintamente todas as atividades, lado a lado com o funcionário Pleno, mas as executa melhor.

Denomina-se perfil do cargo ao conjunto de competências (técnicas e comportamentais) que o ocupante deve reunir para o desempenho adequado do cargo: se atendê-las teremos um profissional PLENO, se superá-las teremos um profissional SENIOR, QUALIFICADO ou ESPECIALIZADO, se posicionar-se abaixo surge a figura do TRAINEE ou JUNIOR.

O perfil ao qual nos referimos é um subproduto da Avaliação dos Cargos da empresa, a etapa mais importante do processo de estruturação das funções e carreiras. Definido esse perfil resta-nos estabelecer algumas tabelas para dimensionar as competências que o ocupante do cargo comprovadamente possui, valorizá-las, totalizá-las e posicionar essa soma na categoria correspondente.

Vejamos um exemplo:

O cargo de Analista de RH de uma empresa tem definidas as seguintes competências para o desempenho pleno da função:

TÉCNICAS

Escolaridade:  Curso Superior completo

Treinamentos:

  • Curso Intensivo em um dos subsistemas de RH (R&S, Treinamento, Cargos e Salários, Benefícios, Administração de Pessoal).
  • Office (Word, Excel e Power Point) básico.
  • Inglês nível básico para leitura.

Experiência: de 3 a 5 anos

COMPORTAMENTAIS (listaremos apenas 3)

  • Comunicação
  • Relacionamento pessoal
  • Iniciativa

O ocupante SENIOR ou QUALIFICADO seria o profissional que superasse esse perfil, por exemplo, já apresentasse um pós ou MBA na área, demonstrasse domínio de não apenas um, mas de 2 ou 3 dos subsistemas listados, conhecesse o Office no seu nível intermediário, fosse fluente no idioma ou reunisse experiência acima de 5 anos. Nas suas atitudes comportamentais o ocupante demonstra sempre exceder às expectativas acima listadas.

Em contrapartida, o ocupante que estivesse abaixo desse nível de competências seria classificado como JUNIOR ou TRAINEE: escolaridade superior incompleta, apresenta parcialmente os treinamentos necessários, é iniciante na sua carreira e “verde” nas suas atitudes.

Um Manual poderia pontuar cada uma dessas competências e a soma dos pontos obtidos em cada uma posicionaria o ocupante no nível adequado de SENIORIDADE, exatamente como num Programa de Milhagem! Competiria ao ocupante reunir tais competências (subsidiadas ou não pela empresa) e atualizar seu prontuário e ao RH atentar para a evolução dessas competências e sugerir a mudança do nível de SENIORIDADE do ocupante em função do total de “milhas” ou competências acumuladas.

O MANUAL DE SENIORIDADE

Geralmente costumo trabalhar com um Manual composto por 6 competências, a saber:

ESCOLARIDADE

EXPERIÊNCIA

IDIOMAS (aplicável apenas para multinacionais ou nacionais se tal competência permear toda a estrutura da empresa)

CURSOS EXTRA CURRICULARES

MULTIFUNCIONALIDADE

ATITUDES

 

Cada uma dessas competências poderia ser configurada da seguinte forma:

ESCOLARIDADE (%)

Conceito: Cursos de extensão universitária, qualificação, especialização, carreira acadêmica ou outro relacionados à formação ou função do funcionário.

Nível

  1. Abaixo do perfil do cargo)
  2. Adequado ao perfil do cargo
  3. Acima do perfil do cargo

EXPERIÊNCIA (%)

Conceito: Tempo de experiência na função, inclusive estágios remunerados ou não.

Nível                                         

  1. Até 6 meses
  2. Acima de 6 meses e até 2 anos
  3. Acima de 2 e até   4 anos
  4. Acima de 4 e até   6 anos
  5. Acima de   6 e até 10 anos
  6. Acima de 10 e até 15 anos
  7. Acima de 15 anos

 IDIOMAS (%)

Conceito: Grau de domínio do idioma com comprovação ou avaliação

Nível

  1. Nenhum ou básico (até 200 horas)
  2. Intermediário (de 201 aa 400 horas)
  3. Avançado (acima de 400 horas)

 

 

CURSOS EXTRA-CURRICULARES (%)

Conceito:  Cursos, seminários, palestras, etc. relacionados   à função.

Nível

  1. Até   50 horas
  2. De   51 a 100 horas
  3. De 101 a 200 horas
  4. De 201 a 400 horas
  5. Acima de 400 horas

MULTIFUNCIONALIDADE (%)

Conceito: Considere a habilidade do ocupante do cargo em executar outras tarefas não constantes de sua descrição, embora relacionadas à sua carreira ou atividades da área.

Nível

  1. Executa parcialmente as atividades relacionadas ao cargo
  2. Executa plenamente as atividades relacionadas ao cargo
  3. Além das atividades que compõem a sua descrição, exerce plenamente mais uma relacionada à carreira ou área.
  4. Além das atividades que compõem a sua descrição, exerce plenamente mais de uma relacionada à sua carreira ou área.

ATITUDES (%)

Conceito: Este fator avalia o comportamento do indivíduo na busca constante do crescimento                       pessoal, acima do padrão definido para o cargo.  Essas atitudes são “pinçadas” do instrumento de Avaliação de Desempenho.

Autoconhecimento: considere se o avaliado é um autodidata, curioso na  busca de novos conhecimentos, esforça-se em aprender, pesquisa voluntariamente novas fontes de informação, etc.

Comunicação: considere a habilidade do avaliado em comunicar-se num nível superior ao exigido para o cargo, negociar, influenciar pessoas ou               contornar situações delicadas, expressar-se por escrito ou verbal, etc.

Ousadia: considere a postura responsável do avaliado frente ao inusitado, iniciativa de ação, proatividade, alternância de rumos, empreendimento, etc.

Nível

  1. Não exerce nenhuma dessas características
  2. Exerce pouco uma ou mais dessas características
  3. Exerce bem uma ou mais dessas características
  4. Exerce muito bem uma ou mais dessas características

 

A cada uma dessas competências atribui-se um valor percentual que possa traduzir seu peso. Geralmente os Gestores são chamados a atribuir tais pesos cuja somatória, é óbvio, deve totalizar 100%.

Estabelecidos os pesos resta a definição da pontuação de cada nível a qual pode ser calculada por uma simples Progressão Aritmética (PA), por exemplo.  Vamos supor a competência CURSOS EXTRA-CURRICULARES com um peso atribuído pelos Gestores de 20% e uma distribuição de 1000 pontos para as 6 competências.

Teríamos então 200 pontos para o Grau 5 (20% de 1000) e, através do cálculo da PA, os valores 40, 80, 120 e 160 para os níveis de 1 a 4.

A somatória de pontos em cada uma das 6 competências resultaria na pontuação da Senioridade, a qual poderá ser classificada num dos níveis seguintes:

Até                   pontos (Trainee)

De         a         pontos (Junior)

De         a         pontos (Pleno)

De         a         pontos (Senior)

Acima de          pontos (Qualificado)

 

A Senioridade do funcionário deve ser compatibilizada com a estrutura de remuneração da empresa pois a evolução de um nível para outro é considerada uma promoção e não uma simples evolução salarial.

 

Perdoem-me, novamente, os que entendem que experiência é tudo. Não descarto essa competência, mas ela de pouco adianta se não for acompanhada da devida qualidade.

 

São Paulo, 2018

José Francisco D´Annibale

Professor universitário INPG e UNITAU – Módulo de Cargos e Salários – MBA em Gestão de Pessoas

Sócio-Diretor da R$EMUNERA Consultoria em RH

Visite o site: www.remunera.com.br